segunda-feira, 28 de abril de 2008

Multitubetextura 1

Para executar a multitubetextura:

1. Deixe carregar todos os vídeos (clique em play e, logo depois de iniciado, pause. O processo deve ser repetido em cada um dos vídeos, deixando encher a barra vermelha até o final). Assim, evita-se pausas indesejáveis durante a execução.

2. Dê play em todos os vídeos ao mesmo tempo ou quase.

3. O executante é também um co-arranjador, definindo, no ato da execução, a dinâmica e a duração: o volume e a ordem de entrada de cada vídeo, assim como o acionamento ou não de alguns deles, a repetição e o avançar ou retroceder.

Nota: A multitubetextura também pode ser executada para uma platéia com a ajuda de um telão e é aconselhável intervir com algum instrumento.




9 comentários:

Anônimo disse...

Genial!

Marco Pacheco disse...

Nobre amigo,
vendo este teu trabalho, resolvi lhe perguntar de modo ingênuo e/ou talvez curioso, o que é poesia?

Como define uma poesia feita de imagens e sons? Ou como um conjunto de sons e imagens é definido ou não como poesia?

Tenho um amigo meu que é músico (músico de verdade, formado pela Escola de Musica da UFRJ) e já tive discussões profundas sobre o que é música, especialmente quando ele veio me dizer que um músico que ele admirava muito havia feito uma música com 3 minutos de silêncio! Segundo meu amigo, o silêncio era intencional e, cada som no ambiente passava a fazer parte da música. Isso certamente ainda está um pouco avançado para a minha mente de Físico...

Agoro vejo você com a idéia de juntar vídeos do youtube. Particularmente, creio que eu precise de um pouco mais de discussão para compreender melhor. Na verdade, a idéia de juntar vários videos e executá-los simultaneamente, não é nova para mim, mas denominar esse conjunto de poesia o é (se já chamavam assim, eu realmente não sei lhe dizer). A tua inovação foi apropriar-se das formas de como reproduzir os vídeos, utilizando-se da internet como meio e fazendo do espectador elemento pricipal na composição sonora e visual.

Gosto muito da questão da interatividade, em especial aplicada à educação (onde já utilizei o RPG para isso). Há um livro muito legal chamado 'sala de aula interativa' e tempos atrás eu mantive contato com alguns pesquisadores da chamada cybercultura e do paradigma da interatividade.

Bom, isso tudo foi mais para provocar-te e com eu aprender um pouco mais ;)

No mais, muita felicidade e sucesso para ti.

Abraços do amigo de sempre,
Marco Pacheco

Márcio-André disse...

Caro Marcos, irmão, fiquei muito emocionado com seu comentário. Na verdade é uma pergunta complexa, cuja resposta merece um longo ensaio. O compositor ao qual seu amigo se refere é John Cage e a música se chama 4'33'' (de silêncio, claro). Ele, John Cage, certamente responderia a sua pergunta muito bem. E na verdade muitos outros poetas, músicos, artistas plásticos, etc, também o fariam bem, de forma que minha resposta seria já uma glosa. Entretanto, sugiro a leitura deste curto ensaio, que escrevei por ocasião de uma conferência no Rio, logo depois que voltei de Chernobyl: http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=2634
Espero que ele possa iniciá-lo neste caminho das contaminações e possamos começar um diálogo que, na verdade, tem tudo a ver com física. Um abraço e vamos que vamos!

Marco Pacheco disse...

Márcio,
meu objetivo com o comentário anterior era de provocar-te, mas tu conseguistes fazer o mesmo comigo.

Pois bem, sei que fazemos loucurar em nome de nossos sonhos, mas espero que você avise àquela que gerará teu filho que você foi exposto a uma dose alta de radiação :P Ahh, mais um ponto: ter um filhos disforme (isso se não ficastes estéril) não faz parte da obra criativa de um poeta.

Mas voltando ao assunto, vou dedicar algumas linhas a comentar alguns trechos que você escreveu. Obviamente, neste primeiro momento tenho como ater-me somente ao aspecto da Física. Quero deixar claro que os comentários sempre tem por objetivo ajudar a engrandecer a tua obra e jamais o contrário.

Lá vai:

1) "Ora, só podemos ser contaminados por algo que já esteja dentro de nós, ainda que em estado de latência." => vou entender isso como licensa poética, pois no sentido físico não faz sentido ;)

2) "A radiação gama só pode alterar a composição molecular das células de alguém porque são também as células compostas de isótopos radioativos." => isso não é verdade. O que a radiação gamma faz, em nosso organismo, é alterar a estrutura molecular de nossas células, dando-lhes uma energia energia além do que estas são capazes de lidar. No caso da molécula de ADN, essa energia extra pode causar a ruptura das pontes hidrogenadas e, com isso, modificando a estrutura de nosso código genético.

3) "Temos, todos e tudo, a mesma base material e elétrica e não sabemos precisamente onde começamos e terminamos." => Aqui você em cheio. Os físicos não sabem o que é a carga elétrica, não sabem o que é massa (aliás, é na tentativa de descobrir a origem das massas das partículas que o LHC, o experimentomais caro do mundo, foi construído. Meu trabalho é num dos detectores de partículas chamado CMS). Outro ponto interessante que pode ser abordado aqui é uma pergunta que intriga filósofos de todas as eras: O QUE É VIDA? Fala-se muito em busca de vida fora da Terra, mas sempre esbarramos no fato de que não sabemos o que é vida e, digo mais, toda a vida que conhecemos é baseada em Carbono e, toda ela derivada da molécula de coacervato que formou-se bilhões de anos atrás em nosso planeta. Nunca encontramos um só ser vivo que seja constituído de outro elemento básico diferente do carbono. No entanto esse não é um caminho que eu possa discutir, pois não sou sequer biólogo ou astrofísico (sim, os astrofísicos buscam uma definição para o que é vida e recentemente teve um seminário no CBPF sobre isso - o qual, infelizmente, eu não pude assistir).

Acabado os comentários científicos, voltemos à poesia ;)

São interessantes algumas de suas colocações e concordo de inteiro com elas: Poesia, Dança, Música, Teatro, são todos facetas diferentes de uma mesma cultura e, em essência, não diferem entre si.

Confesso-te que fui ler o artigo esperando alguma resposta para a pergunta provocativa que lhe fiz. Mas relendo o teu comentário aqui, vejo que a contaminação mútua pode ser um bom caminho a ser trilhado.

Um grande abraço do amigo de sempre,
Marco Pacheco

p.s.: se me chamar de MarcoS novamente você vai ver só :P

Márcio-André disse...

Marco irmão (ou como dizia a saudosa Niza: Marquinho), brigadão pelos comentários.

Olha, eu não sou muito de aceitar “provocações”, não porque eu não goste da discussão em si, mas porque tenho muita preguiça de escrever. Parece um contra-senso, levando em consideração que sou escritor, mas a verdade é que passo o dia inteiro escrevendo e quando não o faço, só quero ficar na minha com minha esposa e meus gatos. Acho que isso tudo deveria ser levado para uma mesa de bar, enfim. Mas vamos lá. Vou tentar me “defender”, respondendo as suas três perguntas de uma só vez.

Naturalmente eu não sou físico PhD como você, e obviamente meus conhecimentos no assunto estão muito aquém do seu. Mas, por favor, não tome a primeira assertiva que você citou por uma licença poética, pois isso de fato desmereceria a própria poesia do texto. Talvez o que te incomode seja o enunciado enquanto plano formal e disciplinar. Isto porque creio que você esteja tomando tal enunciado ("só podemos ser contaminados por algo que já esteja dentro de nós, ainda que em estado de latência.") por um aspecto meramente argumentativo – um subproduto do discurso. Ou seja, você espera que quando digo isso, eu esteja afirmando que “aquilo que já esteja dentro de nós” seja de fato uma centelha “real” daquilo que um dia nos contaminará (por exemplo: se podemos ser contaminados por césio é porque já o teríamos no corpo ainda que adormecido). Não é isso, em absoluto o que afirmo. O que quis dizer, eu resumo de uma maneira bem simples: todos nós, a grosso modo, somos constituídos por átomos, correto?, sendo assim, tais átomos são passiveis de interação com outros átomos, e é somente por isso que estes podem ser alterados. Por exemplo, vc mesmo diz que “o que a radiação gamma faz, em nosso organismo, é alterar a estrutura molecular de nossas células, dando-lhes uma energia além do que estas são capazes de lidar”. Logo, enquanto seres atômicos, temos a possibilidade de sermos alterados atomicamente – e não poderia ser de outra maneira – portanto “só podemos ser alterado por aquilo que de alguma maneira já esteja em nós”, isto porque é a nós que cabe o poder de ser alterado – se não tivermos esse poder (o de ser alterado) seríamos imunes àquilo que altera. Essa assertiva é tão simples na verdade que as vezes não se aceita de imediato, apegados que somos as complexidades dos grandes discursos científicos – entenda que o que proponho é um discurso da simplicidade, daquilo que não possui dobras até onde queremos chegar. Daí vou até a segunda frase, que é equivalente a terceira. Se eu estou certo na terceira, creio que também esteja certo na segunda. Isto porque quando falo de isótopos radioativos (e aqui, talvez admita um erro ao me referir especificamente a um detalhe, levando a impressão de que estou dando dados específicos) na verdade estou jogando com o poder da própria palavra de levar nela já as suas próprias contaminações lingüísticas. Pois de fato na frase que cito, não importa o verdadeiro processo pelo qual se dê a alteração genética. O que digo é simplesmente isso: somos seres atômicos, logo podemos ser “radioativados”. Então, Marco, peço que não entenda tal texto como uma exposição de processos. Mas, de qualquer maneira, agradeço realmente pelos toques. Creio que deva dar uma revisada no texto, visto que ele leve a tais ambigüidades e mal entendidos.

Mas fico feliz que tenhamos chegado a um acordo na sua terceira citação. É disso que falo durante todo o texto, na verdade. Todo discurso, principalmente aqueles originários das propostas metafísicas do ocidente, sustentáculo do pensamento científico, se enclausuram no próprio discurso ao não prescindirem de uma verdade. Ora, a “mentira” é mais interessante, pois abre para tudo o que desconhecemos. A vida talvez seja a maior das “mentiras”, pois não podemos reduzi-la a uma Verdade, qualquer que seja. E, de fato, nada no mundo o pode ser, apesar de enfrentarmos uma tradição onde tudo vai sendo determinado, segmentado e compartimentado em disciplinas e discursos. O mal do discurso é eliminar o pensamento a partir de formulações, as quais raramente são questionadas. O fato de não ser biólogo ou astrofísico não o impede de querer saber o que é a vida, como não o impede de querer saber o que é arte, poesia e outras coisa fora do domínio da física. Na verdade, é somente fora de qualquer domínio que podemos perceber, por um átimo de segundo, o que é a vida. E talvez ela esteja na leitura de um poema, em uma peça de teatro, na pincelada de um artista plástico, em uma exposição apaixonada de um professor de sua universidade, ou de uma descoberta sua quando debruçado sobre os estudos. Então, se a vida está nesses instantes, quais diferenças de fato há entre eles?

E claro que sim, nenhum texto é acabado. Todo texto (e nós somos todos textos) está em constante escrita (ou contaminação). Não há uma conclusão, se não, não seria texto. Eu não sei absolutamente nada de arte, como creio que você não saiba absolutamente nada de física. O que sabemos não é nada, comparado ao que não sabemos, então, sim, estamos em eterna construção textual. A palavra texto tem o mesmo radical das palavras textura, tecido, teia, trama, logo, não termina em uma única linha. Portanto, não vá atrás de respostas fáceis ou quem as responda de imediato.

Para ampliarmos nosso diálogo, o convido a ler dois textos:

http://www.confrariadovento.com/arranjos/texto01.htm
e
http://www.digestivocultural.com/entrevistas/entrevista.asp?codigo=20 - Perguntas 6 e 7

Abração camarada!

Marco Pacheco disse...

Marcio,
não entenda a provocação no sentido pejorativo do termo, mas apenas como uma forma de pensar por outros lados ou, como eu costumuva dizer aos meus ex-alunos secundaristas: fazer uma masturbação mental. Dar um passo adiante em nosso pensamento abstrato ;)

Obviamente não busco por respostas diretas a nenhuma das minhas perguntas. Se assim o fosse, de certo que já teria buscado por uma definição num dicionário ou numa enciclopédi :P

Compreendo tua preguiça de escrever. Acontece o mesmo comigo quando quero descansar e, nesses momentos, quero pensar em tudo, exceto em Física.

A mesa de um bar soou-me como um convite. Mas lembre-se que eu ainda não sou de beber cerveja comum. Gosto das artesanais ou então um bom vinho. Por favor, não combine nada comigo no bar do Tiziu (lembra dessa? O bar ao lado da casa da minha tia Niza onde o Nestor ficava jogando fliperama - aff, a nova geração chama de arcade).

Seguindo com os comentários do teu comentário...

Obviamente que nada me impede de querer SABER o que o que é vida, mas não me sinto capacitado e nem com formação adequada (pelo menos por hora) para DEFINIR o que a vida seja. Nesse ponto, o PERCEBER o que a vida é, como citado em tua resposta, evoca licensa poética do texto, que sem sombr de dúvida, fora bem mais melhor redigido que minhas rápidas observações. Entretanto, em certo ponto, sentir o que é a vida, soou como o discurso teológico de sentir Deus. Não se pode defini-lo, sequer provar de modo inequívoco a existência deste, mas é possível sentí-lo.

Hoje o dia está muito corrido, amanhã é o batizado do filho do China (e eu sou o padrinho)... então já percebeu o corre-corre. Prometo retornar aqui durante a semana para ler os textos indcadado e assim irmos construindo nosso debate.

Um grande abraço do amigo de sempre,
Marco Pacheco

Márcio-André disse...

Ora, a melhor maneira de saber o que é a vida é vivendo! E isso talvez tenha sido uma boa sacação da teologia quanto a Deus. A diferença é que há multiplas experiências ou não do que seja deus. Quanto a vida, existem multiplas experiências do que esta seja, mas todas são unanimamente chamadas "vida", além do fato de não poder haver experiência fora da vida - ao contrário do do discurso teológico.

Abração irmão

Paulo disse...

Estimado amigo
"por que expulsar de vez o poeta" é um artigo que faz o "retrato" da realidade actual dos poetas vivos.
Eu gosto dos poetas "mortos" que , ora, se acomodam nas viagens do infinito e que sabem queimar-se no mundo das estrelas. Os que fizeram do seu "calvário" um trampolim de dor e foram mais além amortalhar-se na poeira anónima das "nebulosas"....
Os poetas "grandes" não se devem perder-se na retórica..ou em discursos menores...
Os poetas dão-nos, sempre, segredos invioláveis. Daqueles que, realmente, seduzem.
Não nasce poeta quem quer.
Quando suprimos pela imaginação - ou pela mera fantasia- a impossibilidade de resposta que pedimos à razão...havemos sempre de nos cruzar...com a "sombra" dos grandes poetas. Afinal...diga o poeta o que disser, não é nisso que está a poesia, mas no que, para além do dizer, é a própria poesia.
Os grandes poetas causam sempre grandes perturbações na ordem estabelecida. Sendo muito mais visíveis e escandalosos quando surgem, tais perturbações não se comparam, ainda assim, às que vêm depois - precisamente quando a ordem estabelecida os pretende integrar - Com efeito, o carácter subversivo do seu aparecimento oferece à ordem ameaçada os termos da sua defesa: recusa-se a tomar conhecimento, repele-os como não-literatura, não os considera maus nem bons, mas, simplesmente, alheios.
É certo que não podemos deixar "morrer" os poetas, dirão alguns. Mas, não é menos certos que há poetas mortos dentro de cada um de nós...
Abraço
Paulo

O Pombo disse...

Muito bom. Parabéns!